A tecnologia é hoje parte do core business de qualquer empresa, independentemente de seu segmento. Essa percepção já existia em menor escala antes da pandemia da Covid-19, mas ela foi disseminada na mesma velocidade que a transformação digital se provou necessária, mudando as relações de hierarquia, as formas de trabalho e o processo de tomada de decisão e de gestão de times.
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Entretanto, é preciso reconhecer que ainda há grandes organizações que teimam em ver a TI como uma área quase de back office, ao mesmo tempo que há CIOs que assumem para sua equipe um papel de mera “tiradora de pedidos”.
Neste bate-papo exclusivo para o Blog da Orange, dois gestores trazem suas visões sobre esse momento de transição.
Leila Assis é Diretora de Produtos de Planejamento e ERPs da Johnson&Johnson Tecnologia para Supply Chain – América Latina. Ela ingressou na multinacional há 13 anos, como Gerente de Projetos de TI, depois de passar por diversas empresas de tecnologia. É PhD em Educação Matemática com Ênfase em Ciência da Computação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Luis Lobão é professor de Estratégia e Governança da HSM Educação Corporativa e também atua como conselheiro de empresas, atividade para qual é certificado pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC). É também Mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Orange Business: Muitos analistas e profissionais da área afirmam que a transformação digital acelerada provocada pela pandemia da Covid-19 mudou irremediavelmente a visão das empresas sobre a TI. Você concorda?
Luis Lobão: A crise da Covid-19 é sem precedentes, sem previsibilidade, sem fronteiras! E tem reflexos humanitários, sociais, econômicos e culturais. O impacto ainda é incalculável, mas vimos ruptura na cadeia de suprimentos, queda abrupta do consumo, negócios paralisados e oscilações nas bolsas. Quem ainda não estava pronto para se transformar digitalmente está se vendo obrigado a fazer isto à força, e às pressas. Uma das consequências da pandemia é a necessidade de empresas contarem com soluções online para manter seus negócios em andamento. A reflexão sobre a tecnologia e a transformação digital, passou rapidamente de um “tema de discussão” para um “tema de ação”.
Leila Assis: Acredito que a pandemia destacou a necessidade de as empresas acelerarem seus processos de transformação digital e se prepararem melhor a médio e longo prazo. Afinal, agora muitas vulnerabilidades estão expostas, uma vez que todos confrontamos uma realidade de superlativos nunca enfrentados ao mesmo tempo. Isso implica, inevitavelmente, que as organizações percebam o quão difícil pode ser percorrer esse caminho enquanto tentam continuar arraigados ao modo de realizar seus negócios "como de costume”. E TI, sem dúvida, faz parte do caminho crítico na solução de diversos desses novos elementos, onde a tecnologia passa a ser utilizada como necessidade e não mais diferencial.
A pandemia fez conselho de administração e TI trabalharem contra o tempo em uma das maiores gestões de crise das últimas décadas. Imagino que muitos modelos e metodologias não se aplicavam às condições extremas que vivenciamos…
Lobão: Podemos notar que a pandemia forçou as empresas a trabalharem em três fases bem distintas. A fase 1 foi financeira, onde a busca de proteção do caixa era a orientação principal; na sequência, tivemos a remodelagem do modelo de negócio então vigente, na qual as necessidades funcionais e resgate dos canais de venda e receita passaram a ser a orientação para as decisões. A fase 3 é de adaptação, na qual os investimentos e movimentos estratégicos devem estar em sintonia com o mercado e as novas necessidades dos consumidores. O papel do conselho neste momento foi estar mais presente no dia a dia da empresa. E o da TI foi fundamental para ajustar o modelo de negócio e adequação dos canais de venda.
Leila: Como tantas outras grandes empresas, tivemos que nos ajustar, e em alguns momentos isso foi desconfortável. Usualmente tínhamos grandes equipes alocadas no mesmo ambiente físico para compartilhar conhecimento e alinhar os objetivos de um projeto. Hoje vemos muito mais a prática de diversos times menores realizando break-out sessions mais curtas, todas virtuais, com maior agilidade e com a preocupação de apresentar resultados mais constantes via novas ferramentas de colaboração online. Esse ritmo nunca fora tão estimulado quanto agora, e parece ter-se firmado face à necessidade de demonstrar resultados. A aceitação dessa nova prática na gestão do projetos, por exemplo, abre um grande precedente para torná-la duradoura, mesmo após a pandemia.
Pela sua experiência, quais são as visões equivocadas mais comuns que o Conselho de Administração tem sobre a TI? Como esses poréns podem comprometer o bom andamento do negócio como um todo?
Lobão: Tecnologia e transformação são temas pouco conhecidos pela maioria dos conselheiros. A área de TI precisa ser mais “didática” quanto trata de propostas de investimento ou mudanças da base tecnológica. A TI precisa começar a trazer propostas para o CAD com uma visão de negócio, e não de simples redução de custo ou atualização tecnológica. Essa falta de adequação da apresentação dos projetos causa uma demora no processo de aprovação das propostas. Outro tema relevante que a área de TI precisa trabalhar como o comitê de Risco e Conselho atualmente são os riscos cibernéticos.
Leila: Existem certos mitos ao redor do departamento de Tecnologia. Estereótipos como “quem realiza a transformação digital é o setor de TI” cria um abismo entre expectativa e realidade. Para funcionar, a responsabilidade na relação entre negócio e Tecnologia não pode ser terceirizada a ninguém mais do que aos próprios funcionários da organização. Outro equívoco é achar que a TI consiste apenas em um departamento de suporte. A TI é uma das únicas áreas organizacionais presentes em praticamente toda a companhia, e seu caráter integrador deveria ser melhor explorado.
Agora, o outro lado: quais os pontos cegos da área de TI sobre o papel e atuação do Conselho de Administração e como esses pré-conceitos limitam os resultados?
Lobão: Como disse, o CAD tem a área de TI como um centro de custo, mas na realidade precisa entender que, agora, todas as empresas têm a tecnologia como core business. E que os investimentos na área de TI são fundamentais para aumentar a competitividade, melhorar a experiência de compra dos clientes, aumentar a produtividade e atuar em canais de venda digitais.
Leila: A própria tecnologia, e por consequência a área de TI, precisa se reimaginar. E para isso ser feito consistentemente, ainda temos um grande caminho a trilhar na área de TI, incluindo na própria formação de profissionais que consigam melhor articular o valor das interações e contribuições de TI para a corporação.
Você acha que o novo normal será tão novo, assim? Ou viveremos uma reprodução mais contextualizada dos padrões já solidificados dentro das organizações? E como você acha que esse novo normal vai afetar a sua área, em específico?
Lobão: Vejo algumas características que podem moldar o mercado, novos hábitos e modelos de negócio. Temos o crescimento da economia do compartilhamento e da economia circular, ampliação do omnichannel, mudança para um mindset orientado por propósito, preocupação dos consumidores com a responsabilidade social e sustentabilidade, necessidade de ampliar radicalmente a capilaridade de vendas (B2B, B2B2C e B2C) e valorização do mercado local. Também acredito que há necessidade de ampliar a autossuficiência e a independência, o que pode levar ao crescimento da indústria nacional. Outra tendência é o crescimento do social selling. A situação atual é um momento de decisão e nos oferece uma escolha: ou tentamos reconstituir o mundo tal como era antes dessa ocorrência catastrófica, ou aproveitamos esse acontecimento como o momento fundador de uma narrativa global unificadora, que reconheça que somos todos corpos vulneráveis extremamente dependentes uns dos outros e de sistemas de governança. A crise é temporária, mas a transformação, não.
Leila: Enquanto a vida com a qual todos nós estávamos acostumados parou, outro tipo de vida que ninguém antevia emergiu. E é preciso adequar-se a isso através de diferentes formas de interagir, comprometer-se e colaborar. Faz parte da jornada de qualquer bom profissional: se transformar constantemente. Nesse caso específico, isso foi instigado pelas condições que a pandemia exigiu. Algumas estratégias funcionais, como o home-office - antes uma possibilidade para poucos - se tornaram a saída para muitos negócios continuarem funcionando, e acredito que a tendência é o fortalecimento dessa modalidade.
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Divisão do Grupo Orange dedicada ao universo B2B, a Orange Business é um fornecedor global de serviços de TI e comunicações, posicionado estrategicamente para permitir que a transformação digital ocorra de forma fluida, garantindo o maior ganho possível para seus clientes, independentemente dos setores nos quais operem.